Cadastro positivo fará mesmo o milagre de baixar juros dos bancos?
Com a Lei Complementar 166, de abril de 2019, as empresas de bancos de dados estão autorizadas, desde julho, a receber informações sobre dados financeiros e hábitos de pagamentos, a fim de construir um histórico de crédito de todos os brasileiros, o que se deu o nome de cadastro positivo.
A expectativa para todos é que, com uma análise de crédito com muito mais informações disponíveis, os juros realmente caiam.
É que, com mais dados para formação do score, incluindo-se hábitos de pagamentos, perfil de gastos e comprometimento de renda, a análise para concessão do crédito será mais robusta, e isso levará à derrubada dos juros.
Mas será assim mesmo?
Os bancos analisam os pedidos de crédito com base em sua pontuação. Este score, como é chamado, varia de 0 a 1.000 e é realizado com base no seu perfil, como idade, estado civil, renda, se é ou não investidor, sua pontualidade nos pagamentos, endereço e outros, variando de instituição para instituição.
Com base nestes dados, os bancos lhe atribuem pontos que são assim classificados: de 0 a 300 é considerado alta a probabilidade de inadimplência; de 301 a 700 o risco de inadimplência é médio; e, de 701 a 1000, o risco é baixo, e você considerado um bom pagador.
Não é preciso ser matemático para ver que, se você está com uma pontuação baixa, dificilmente conseguirá levantar algum empréstimo. Na pontuação média passará de negativa do crédito a taxas mais altas e, para obter empréstimos com taxas boas e sem muita conversa, pense em sua pontuação acima de 800, ou melhor, acima de 900.
Este é o cenário no papel, mas a realidade é muito diferente.
Eu tenho um score muito bom, na verdade excelente:
Contudo, meu cheque especial tem juros que fariam corar Shylock, o agiota que cobra Antonio em "O Mercador de Veneza", de Shakespeare.
Como se lê na figura ao lado, tenho um CET (Custo Efetivo Total) de 12,37% ao mês, 313, 28% ao ano.
Eu me sinto como Antonio, prestes a ter arrancada uma libra de carne de meu coração e sem perspectiva de que o sangue – não contratado – não seja levado junto.
Perdoem o pessimismo, mas em tempos de Selic a 5,5% ao ano e um crédito, mesmo que emergencial, a alguém com score de 967 de 1.000 em 12,37% ao mês, não é normal, não é sequer razoável.
Por isso, esperemos sentados e bem sentados que o cadastro positivo vá baixar os juros nos bancos.
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