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Blog do João Antônio Motta

Inadimplência é pequena e não pode ser culpada pelos juros altos dos bancos

João Antônio Motta

09/07/2018 00h00

Tal como um mantra, repete-se exaustivamente que as taxas de juros são altas porque a inadimplência assim obriga. Diz-se que os bons pagadores pagam a conta dos caloteiros, daqueles que de má-fé vão pegar o crédito já na certeza de não realizar o pagamento.

Pois bem, mas os números confirmam o mantra? Ao pesquisar os dados no Banco Central, é possível ver que a inadimplência das carteiras a empresas ficou em maio de 2018 em 2,96% do total emprestado. Já para as pessoas físicas, o número chega a 3,59% do crédito.

Isso quer dizer que a cada R$ 1.000 emprestados, as empresas deixaram de pagar R$ 29,60, e as pessoas físicas R$ 35,90. Tomando-se como base uma operação de crédito a pessoas jurídicas e com garantia de alienação fiduciária em recebíveis, portanto de baixíssimo risco, que em maio de 2018 estava em média 4,74% a.m., é possível com base na Selic 0,52% na mesma data realizar alguns exercícios.

É de se verificar que, a cada R$ 1.000 emprestados, o desencaixe foi de R$ 29,60 e, em contrapartida, o retorno ficou de R$ 46 – (R$ 1.000 – R$ 29,60) x 4,74% -, o que vale dizer que a cada R$ 1.000 haveria a "cobertura" dos R$ 29,60 não pagos e ainda "sobrariam" R$ 46, que representam uma taxa líquida de 4,6%, ou apenas a impactação de -0,14%.

Não obstante, continuando o exemplo com a Taxa Selic em 0,52%, e a inadimplência (frise-se: total) em 2,96%, o impacto seria de 0,52% para 0,50%, sendo que a diferença para a taxa de aplicação em 4,74% ainda resultaria em inexplicáveis 815,38% de retorno. Ou, como preferem os bancos ao divulgar os números, 8,15 pontos percentuais de acréscimo.

É inevitável concluir que não são as taxas de inadimplência as vilãs para a teimosia dos juros permanecerem altíssimos.

O nó a ser desatado, então, reside nos impostos, altíssimos ao setor bancário? Nos custos administrativos? Nas despesas de captação? Na margem de lucro do setor?

Pois bem, as margens de lucro dos bancos vêm das operações de crédito de tesouraria, mas há de se ter presente que as tarifas são o lastro dos custos administrativos. Assim, para se ver a razão dos juros altos, há de se ver qual o ganho em cada área de receita e pela qual cobertura de custos elas são responsáveis.

Tenho pra mim que os juros são altos porque os bancos, no Brasil, sempre trabalharam com margens altas e que isso não vai se modificar, pois é da natureza humana maximizar os lucros. Assim, desde que os lucros migraram do "floating" para os juros e as tarifas, mesmo com a enorme diminuição na rede das agências, na redução do número de funcionários e com a transferência dos serviços para a internet, mesmo com toda esta racionalização, a redução dos custos foi direcionada aos maiores ganhos, o que se pode ver pelos dados do Banco Central quanto média anual do setor nos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) em R$ 7,95 bilhões, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) em R$ 31,84 bilhões, e Dilma Rousseff (2011 – 2013) em R$ 38,58 bilhões.

É e continuará a ser muito rentável ser banqueiro.

Sobre o Autor

João Antônio Motta é advogado (PUC/RS – OAB em 1982) especialista em obrigações e contratos, com ênfase em direito bancário, econômico e do consumidor. É autor do livro “Os Bancos no Banco dos Réus“ - Ed. América Jurídica, (Rio de Janeiro, 2001).

E-mail de contato: contato@jacmlaw.com

Sobre o Blog

Este blog traz informações independentes sobre bancos, segurança, cobrança, investimento e outros temas que ajudam no seu dia a dia com as instituições financeiras.

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