Comprar a TV que não precisa com o dinheiro que não tem: superendividamento
A palavra é comprida, trava a língua, mas o resultado você vê imediatamente com seu nome incluído nos órgãos de proteção ao crédito: superendividamento. Basicamente nós somos diariamente bombardeados com propagandas para comprar isso ou aquilo e, certamente, determinadas marcas ou produtos têm um apelo irresistível. Mas, sem dar um passo atrás, sem respirar e pensar melhor, vamos comprar a TV de que não precisamos com o dinheiro que não temos.
E é fácil consumir como se não houvesse amanhã, pois o crédito para a compra de produtos – de torradeiras aos carros importados – não é difícil de obter. Basta que a sua renda seja compatível e que o produto fique como garantia ao crédito concedido. Aliás, os bancos dão o crédito focados apenas em como poderão vender o produto recebido como garantia.
Esta facilidade na obtenção do crédito é extremamente benéfica a todos se, e apenas se, esta facilidade andar junto com consumo consciente e forte divulgação de princípios de educação financeira. O lado escuro do crédito fácil e consumo exagerado é a inadimplência e o superendividamento, que é contrair dívidas além da sua capacidade de pagamento, podendo até mesmo comprometer suas necessidades básicas, como moradia e alimentação.
Veja o caso do cartão de crédito. Este importante meio de pagamento envolve uma empresa administradora ou um banco, onde as operações representam uma carteira, o lojista e você. Assim, você paga o lojista com o cartão de plástico que, autorizado pelo banco, receberá depois o pagamento e, mais tarde, você realizará o pagamento pelo boleto do cartão. Suas compras serão agrupadas em um único vencimento e isso facilita – e muito – a sua vida.
Acontece que no vencimento do boleto, se você não pagar o valor devido e iniciar uma "rolagem" (quando adiamos o pagamento) do saldo devedor, estará às portas do desastre. Segundo divulgado pelo Banco Central, a taxa média do crédito rotativo em cartões de crédito, para o período de 31/01/2018 a 06/02/2018 está em 11,78% ao mês. Isso quer dizer que se você adiou o pagamento de R$ 1 mil, no segundo mês estará devendo R$ 1.117,80 e, no terceiro mês, já estará em R$ 1.249,48. Não precisa ser especialista em matemática para ver o tamanho do problema. Se a taxa não subir, em 10 meses você estaria devendo R$ 2.724,45.
É que em janeiro de 2017, para reduzir o excesso de dívidas, o Banco Central editou uma norma que determina aos bancos a "rolagem" do saldo devedor do cartão de crédito em uma carteira mais vantajosa aos consumidores. O que vale dizer que você vai sair do absurdo da taxa de crédito de 11,78% ao mês para algo em torno de 8% ao mês. A questão é: se afogar em 8 metros de água ou 12 metros? O resultado é o mesmo: o seu desastre financeiro.
Mas qual a solução? Não há mágica possível. O consumo não deve ter por análise apenas se a prestação cabe em seu salário, mas sim se a compra é mesmo necessária e, principalmente, quanto você irá pagar de juros para isso. Juros é o preço que você paga para antecipar o futuro e este preço não pode ser um sacrifício tão grande a ponto de você perder as vantagens da compra e sacrificar o próprio futuro.
Porém, se você já está com o problema criado, já está devendo o que tem e o que não tem, fique calmo! Junte todos os comprovantes de quanto você recebe e vá negociar com o banco ou o lojista. Não negocie com empresas de cobrança, com "call centers". Normalmente quem está do outro lado da linha não tem autonomia para fazer alguma coisa diferente do que receber o que está contratado. Vá diretamente ao banco ou à loja com documentos que comprovem o quanto recebe, para que possam juntos ajustar um plano de pagamento. Os credores em geral preferem receber algo com prejuízo do que não receber.
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