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Investimentos que são casos de polícia

João Antônio Motta

25/11/2019 05h08

Sem exagero, toda semana recebo consulta sobre investimentos oferecidos a clientes, que prometem acima de 4% ao mês de rentabilidade, como o que recebei semana passada e que me fez pensar neste texto, "garantindo" 8% – sim, oito por cento – de rentabilidade ao mês. 

Pois bem, como a taxa básica de juros está em queda livre, obviamente as taxas de investimento no mercado financeiro também se apresentam em queda.

Este é o cenário ideal para os herdeiros de Charles Ponzi.

Ponzi foi o espertalhão que enganou meio mundo no início do século passado, oferecendo investimentos em compra e venda de selos postais, com rendimentos que chegavam a 30% ao mês.

Na verdade, Ponzi pagava os rendimentos com o dinheiro que recebia dos novos investidores, que corriam a lhe entregar as economias. A isso se deu o nome de pirâmide financeira e, com algumas variações, se repete até então.

Hoje os esquemas são diversificados, muitas vezes camuflados em empresas de marketing multinível, onde há um modelo comercial de ganhos em venda de produtos e, dos vendedores que o vendedor originário conseguir alocar abaixo de si.

Como se vê, este tipo de negócio é um pulo para a pirâmide financeira, sendo a única diferença que os ganhos devem necessariamente vir da venda dos produtos de cada nível, não da simples apresentação de vendedores.

Mas o negócio está sério.

Recebi um contrato para análise de uma "corretora", com sede na avenida Faria Lima, um local que concentra grandes empresas na capital paulista, que por um lote de ações que sequer identificava, tomando como garantia o imóvel do investidor, prometia rendimento de 8% ao mês no mercado de ações.

O caminho da Delegacia de Polícia foi apresentado em menos de cinco minutos. 

A consulta à página da Comissão de Valores Mobiliários – CVM, desvendou que a corretora não era uma corretora. Não existia. 

Já na página da Junta Comercial do Estado de São Paulo – JUCESP, foi constatado que o capital da empresa era de R$ 10 mil reais e seu único sócio residia em uma comunidade de Osasco/SP, certamente um "laranja" que alugou seu nome ao esquema criminoso.

Portanto, fiquem muito atentos, pois os herdeiros de Ponzi continuam atacando as economias de quem imagina existir rendas de 5,5% ao mês, quando a Selic está em 5,5% ao ano.

Se oferecerem 2% desconfie e saiba que no mercado de ações ou no mercado financeiro esse percentual só é possível correndo sérios riscos, muitas vezes sendo prometido mas dificilmente realizado. 

Oferecendo mais que isso, corra para a polícia. 

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Sobre o Autor

João Antônio Motta é advogado (PUC/RS – OAB em 1982) especialista em obrigações e contratos, com ênfase em direito bancário, econômico e do consumidor. É autor do livro “Os Bancos no Banco dos Réus“ - Ed. América Jurídica, (Rio de Janeiro, 2001).

E-mail de contato: contato@jacmlaw.com

Sobre o Blog

Este blog traz informações independentes sobre bancos, segurança, cobrança, investimento e outros temas que ajudam no seu dia a dia com as instituições financeiras.

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