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Formas alternativas de recuperar o crédito.

João Antônio Motta

24/06/2019 05h09

O indiano Muhammad Yunes foi quem popularizou a operação de microcrédito, pois dizia que os bancos trabalhavam errado, emprestando aos ricos e desprezando os pobres, justamente os melhores pagadores.

Foi com isso em mente que fundou o Grameen Bank, emprestando pequenas somas de dinheiro a quem, normalmente, não tinha acesso aos bancos tradicionais. Estes empréstimos, concedidos a pequenos empreendedores, tinham uma inadimplência muito baixa, em torno de 2 a 3% do total.

Mas a questão principal, aqui, é observar que mesmo em ralação a esta baixa inadimplência, Yunes pregava que a recuperação do crédito deve necessariamente envolver uma atitude ativa do banqueiro. Para tanto, Yunes tomou por base a própria criação do microcrédito, apresentada como obra do pastor Raiffeinsen com a criação da Associação do Pão em 1846 na Alemanha.

O pastor Raiffeinsen após um rigoroso inverno e o endividamento dos agricultores com os agiotas locais, cedeu farinha de trigo para, com a confecção do pão, pudessem ganhar uma margem e obter capital para os pagamentos. Na verdade, Raiffeinsen ajudou a todos, credores e devedores, movimentando a economia e gerando riqueza.

Este é o ponto: não adianta nada aos credores esperar a crise de pagamento passar. Eles têm de se engajar na busca de uma solução. Yunes falando da série de desastres naturais que assola a Índia sazonalmente, afirmou que não basta conceder crédito, temos de ajudar as pessoas a sair da crise.

Ora, sejam crises naturais, sejam crises financeiras, o resultado é o mesmo e a solução sem dúvidas pode ser a mesma. Se o credor toma a iniciativa em buscar uma solução, e não só em dar mais prazo ou descontos para pagamento à vista, mas ajudando o seu devedor a sair da enrascada em que se meteu, claramente a solução e o pagamento podem vir mais rápido do que esperar a crise passar.

Um exemplo simples, mas que pode ajudar a entender, diz respeito à inadimplência com o veículo. Porque retomar o carro e colocar a venda, com milhares de outros, que só deprecia a garantia e reduz a possibilidade de melhor recuperação do crédito? Porque não colocar este veículo para renda, em aluguel de algum aplicativo? Porque não criar um próprio mecanismo de locação? Tudo isso com a participação do devedor, que terá no credor não mais um algoz, mas um parceiro.

Mais. Normalmente o procedimento de Recuperação Judicial é visto pelos bancos como a cruz ao vampiro. Qual a razão de não se valorizar este procedimento, não por querer dele sair o mais rapidamente possível, mas pela possibilidade de venda de partes produtivas da empresa? As vendas de UPIs (Unidades de Produção Isolada) são feitas com isenção de responsabilidade e sucessão pelo adquirente e, hoje, são pouquíssimas discussões nos planos apresentados que contemplam tal possibilidade, que a todos pode beneficiar.

Enfim, é tempo dos bancos sairem do lugar comum de negativar seus devedores e esperar o pagamento, transferindo aos outros o ônus disso por taxas mais altas, assumindo uma condição ativa em tirar quem está devendo da crise e não esperar o problema passar. 

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Sobre o Autor

João Antônio Motta é advogado (PUC/RS – OAB em 1982) especialista em obrigações e contratos, com ênfase em direito bancário, econômico e do consumidor. É autor do livro “Os Bancos no Banco dos Réus“ - Ed. América Jurídica, (Rio de Janeiro, 2001).

E-mail de contato: contato@jacmlaw.com

Sobre o Blog

Este blog traz informações independentes sobre bancos, segurança, cobrança, investimento e outros temas que ajudam no seu dia a dia com as instituições financeiras.

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